Cada palavra desse texto representa a luta entre o delírio e a razão. A escultura do Pirambu ainda ecoa nos dedos trêmulos que batem o teclado. A respiração do redator recém começa a ser contida, porque um gol nosso depois dos 40 do segundo tempo sempre provoca distúrbios cardiorrespiratórios, mesmo em Xavantes jovens. Se vem de um cara visivelmente orgulhoso de vestir nossa camisa, a loucura se instala, acachapante.
Mas o corpo de ressaca emocional precisa lidar racionalmente com a transitoriedade dessa alegria. Porque, 120 segundos depois, veio o empate do Botafogo e voltamos ao estágio anterior. E a avaliação que se faz dessa condição depende do humor de quem vê.
Pela crueza da matemática, o Brasil fica com dois pontos em nove disputados, com duas partidas na Baixada. É algo ruim, objetivamente falando. Mas ao olhar a forma como esses pontos escapam, talvez possamos amenizar o azedume.
O Brasil criou demais, ainda que de um jeito um tanto impreciso nos cruzamentos. Vini Peixoto, enquanto esteve em campo, teve boas oportunidades. Cabeceou, fez facão, gingou. É um tipo de insistência que uma hora ou outra é recompensada.
Não vamos aqui enumerar cada lance, mas, depois de filtrada a tristeza, quem se dispuser a rever os melhores momentos verá que só um time quis vencer. Foi o nosso.
Há também outro juízo menos amargurado permitido pelo 1 a 1. Além do Júnior Pirambu, autor de um chute belo e curvilíneo feito um traço de Niemeyer, há peças se posicionando em condições de ajudar. Jhonata Carlos entrou com personalidade, riscou bons lances de canhota.
Bem, como confessado lá no início, esse é um texto escrito sob enfrentamento de um corpo embriagado de adrenalina e uma mente forçada a encarar a realidade na máxima objetividade possível.
Lulu Santos disse que todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite. Sigamos esperando. Foi só uma manhã.
Brasileirão Série C 2022 – Brasil 1×1 Botafogo/SP – Fotos Volmer Perez
