A viagem para Ijuí é daquelas que destroçam os nervos de uma criança. São 466 quilômetros, que o otimismo do Google Maps diz ser possível percorrer em 6 horas e 27 minutos. Quem tem menos de 10 anos, pergunta “falta muito?” pelo menos umas cinco vezes nessa jornada. Não é coisa para gente sem paciência.
O mais importante atributo da alma, aliás, não faltou no 19 de Outubro. No início, os caras vieram para o abafa, chuveiraram tanto que nem fez a falta a água prometida pelas nuvens, que não caiu. Resistimos com frieza e, numa escapada, Marcelinho deu na orelha da bola. Ela chegou mansa no pé do Paulo Victor, o carrasco da capital: 1 a 0 para nós.
Na volta para o segundo tempo, o São Luiz veio de novo com apetite. Dessa vez, embora a paciência ainda estivesse por lá, não sobrou muito espaço para sairmos no contra-ataque. Essa asfixia só acabou quando Bruno Paulo contrariou todos os prognósticos médicos e voltou a vestir a nossa 7.
Com essa referência de mobilidade, o Brasil passou a revidar com veemência. Numa arrancada destemida, Luiz Meneses deixou uns quatro caras deles pelo caminho e, já meio se desequilibrando, açucarou para Bruno Paulo. Foi um pecado tremendo aquela chapada ter saído com uns 5 centímetros mais alta, tocando na trave. Nos condomínios espalhados pelo País, vizinhos se perguntavam que urro fora aquele, prontamente abafados por essa leve imprecisão.
Mas o maior pecado se consumou em seguida, com o empate do São Luiz justo quando o Xavante se assenhorava do jogo. Tanto que, logo em seguida, numa outra arrancada de rara beleza, Paulo Victor costurou, se aprumou e chutou: dessa vez, a imprecisão se foi muito além dos 5 centímetros da jogada anterior. Foi uma lástima.
A paciência necessária para quem se joga na estrada de Pelotas a Ijuí serve de régua para o restante do jogo, e do campeonato. O rebaixamento ficou para trás. A classificação ainda é uma possibilidade bastante concreta. O ano que lá pelos idos de novembro do ano passado se anunciava sombrio está aí, pulsante.
A paciência, o mais importante atributo da alma, também nos ajuda a enxergar melhor.