Uma noite do melhor de nós

Lá no Pampa profundo, qualquer ginete conhece a violência de um coice. Quando o Brasil está obstinado, porém, até essa consciência ancestral se abranda. Paulo Victor tomou um chute nas pernas, mas, como a bola restou insinuante, ignorou o impacto e, pelo impulso da alma, concluiu a jogada. Deu na defesa deles, saiu pela linha de fundo mas, antes do escanteio, o VAR restaurou a sabedoria do campo. Marllon foi lá e, daquele jeito que só a gente se angustia, correndo pausadamente, teve a generosidade de deixar o goleiro deles aparecer na foto. Um a zero e flechada no ar.

Lá no Pampa profundo, a peonada mais experiente se esmera no nó. Uma corda bem amarrada define o sucesso da lida. Pois nosso lado direito está assim, robusto feito um laço de 12 braças. Não se sabe onde acaba o Marcelinho e começa o Luizinho, tal a simbiose tática dos dois. Foi por ali que, por pouco, não veio o segundo golo. A trave do Ypiranga se fez um moirão, pelo menos duas vezes.

Lá no Pampa profundo, quando o inverno se anuncia no horizonte, a temperatura fica como o temperamento do Vitor Luiz. Quando nossos nervos latejavam, o guri agia como se estivesse coberto de geada. Não convém, todavia, confundir frieza com apatia. Depois de nos defender com a simplicidade que só sábios alcançam, ligava contra-ataques com extrema agilidade de precisão, ora com as mãos, ora com os pés. Se alguém vier a perder o sono numa madrugada dessas até quarta-feira, não será por nossa exuberante safra de goleiros.

Lá no Pampa profundo, a cavalgada campo afora se alinha coordenadamente como nossos volantes. O Karl, que pelo jeito não perde nossos textos aqui, também não perdeu bola nesse jogo. Quando o Luiz Meneses caiu na cancha reta, Ruan veio com boleadeira, rachando todas. Reproduziram no campo aquela linha vermelha, cintilante, sólida, fervilhante que recepcionou o ônibus da delegação e depois inoculou loucura pela Baixada inteira. É bonito demais quando o time faz o que faríamos nós, se estivéssemos em campo.

A decisão vai se dar geograficamente longe do Pampa profundo, lá onde o Rio Grande quase se transforma em Santa Catarina. Mas, a julgar pelo que se viu nessa noite em Pelotas, não é inteligente duvidar da capacidade desse clube de levar o melhor de nós, onde quer que vá.

Gauchão 1ª Semifinal – Brasil 1×0 Ypiranga – Fotos Volmer Perez

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